Organizações indígenas,lobo888 - socioambientais e de direitos humanos manifestaram nesta quinta-feira (25) repúdio à aprovação do regime de urgência na votação do Projeto de Lei (PL) 490, que institui o marco temporal da demarcação de terras indígenas.
Após a Câmara aprovar a tramitação acelerada na noite de quarta-feira (24), o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que pretende colocar a matéria em votação na próxima semana.
“Ruralistas têm urgência em apagar nossa história, destruir nossos biomas, seguir com o genocídio que enfrentamos há 523 anos, para passar a boiada”, disse em nota a Articulação dos Povos Indígenas Indígenas do Brasil (Apib).
Na Câmara, o PL do Marco Temporal precisará de maioria simples para ser aprovado. O próximo passo é a apreciação pelo Senado, cujo presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) não sinalizou se pretende acelerar a tramitação antes que o Supremo Tribunal Federal (STF), retome a análise do tema no dia 7 de junho.
Ruralistas correm para evitar que Supremo decida
Os articuladores do marco temporal no Congresso são parlamentares ruralistas, bolsonaristas e do chamado “centrão”. E eles têm pressa pela aprovação e o objetivo é se antecipar ao Supremo,.
“O que estamos fazendo é para deixar claro que esse projeto precisa ser discutido no plenário desta Casa para evitar que o STF o decida”, admitiu Lira.
A análise na Corte está suspensa por um pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes. Até agora dois ministros votaram: o relator Edson Fachin, contra o marco temporal, e o ministro Nunes Marques, a favor.
Juliana Batista, advogada do Instituto Socioambiental (ISA), diz que o presidente da Câmara “afronta os outros poderes e busca intimidar o STF, imitando as crises institucionais forjadas por Bolsonaro, ao colocar o PL 490 na pauta”.
“A questão é constitucional, será judicializada e só irá gerar mais violência e insegurança jurídica, criando falsas expectativas de anulação das demarcações”, opinou a advogada em reportagem publicada no site do ISA.
Governo é criticado por liberar bancada
O regime de urgência do PL 490 foi aprovado na Câmara por 324 votos contra 131. O PT orientou sua bancada pelo voto contrário, mas o governo federal não exigiu que as siglas aliadas seguissem o partido.
“De forma questionável, a liderança do governo liberou a sua base para a votação, onde cada parlamentar vai votar segundo os seus interesses”, criticou o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), que organizaçã
A coordenadora da Frente Parlamentar dos Povos Indígenas, deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG), disse que a votação em regime de urgência é obra de um "Congresso assassino".
"Enquanto mulher indígena e presidente da bancada do cocar, irei fazer o possível para enfrentar a bancada ruralista. Ninguém gosta de falar em genocídio aqui, mas [o PL 490] é um genocídio legislado", afirmou a parlamentar.
O que é o marco temporal das terras indígenas?
O marco temporal é uma tese jurídica defendida pelo agronegócio, repudiada pelas organizações indígenas e considerada inconstitucional por juristas e advogados - indígenas e não indígenas.
A proposta muda radicalmente o critério para demarcações ao estabelecer que apenas as terras já ocupadas por povos indígenas em 5 de outubro de 1988 - data da promulgação da Constituição - podem ser reivindicadas por eles.
:: Povos originários defendem demarcação de terras para enfrentar crise climática ::
Um grupo indígena que tenha ocupado um território por séculos, mas que não estivesse no local na data exata estabelecida pelo marco temporal, pode ficar sem direito à demarcação.
A maioria das lideranças indígenas e especialistas consideram que o critério poderá paralisar novas demarcações e também permitir o questionamento na Justiça de processos demarcatórios já concluídos.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
Relacionadas
Manifesto contra esvaziamento de ministérios tem assinaturas de quase 800 entidades
Padilha diz que Lula vetará lei que permitiria mais desmatamento; entidades mantêm pressão
Governabilidade de Lula: Lira cobra emendas para deputados, mas líder na Câmara minimiza crise